quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Um dia tinha que acabar

Eu sabia que um dia tinha que acabar, mas não imaginava que seria tão de repente. Parece que foi ontem o dia em que sai de Porto Alegre, mas, pensando agora, eu vejo o quanto eu fiz e o quanto aproveitei. Achei que não seria tanto, que iria gostar, mas que não seria tudo isso. Afinal, era Portugal, o país do lado da Espanha; um cantinho final de Europa. Mas, felizmente, estava errado.

Vi muito, conheci muito, cresci muito. E, por isso, esses cinco meses concorrem, e talvez ganhem, como os melhores da minha vida. E por tudo isso vou sentir saudades, como percebi hoje quando ia ao meu último pastel de nata.

Saudades de caminhar pela cidade. Saudades dos miradouros. Saudades da Graça, do Bairro, da Alfama. Saudades de pegar o elétrico. Saudades de pastel de nata e expresso na Confeitaria Nacional. Saudades da Super Bock e da Sagres, por piores que sejam, e do vinho de dois euros que vendia no Pingo Doce. Saudades das festas nos fins de semana. Saudades das festas em dia de semana. Saudades de acordar as quatro, sem ninguém me olhando feio. Saudades do Grega, da Ana, da Aude, do João, da Thais, da Johanna, da Juleana. Saudades de cozinhar só para mim e almoçar vendo House trancado no meu quarto. Saudades das jantas, sejam em casa ou fora. Saudades do bacalhau e do bitoque. Saudades da ginja. Saudades de voltar de madrugada a pé para casa, de me perder nas ruas estreitas e emaranhadas da Alfama. Saudades do fixe, do percebe, do sotaque. Saudades da Tuna e das tradições universitárias. Saudades do Castelo, da Sé, das lombas, da confusão. Saudades de abrir a porta do quarto e encontrar alemães, uruguaios, italianos, belgas, estonianos e gente de lugares que nunca ouvi falar. Saudades da vida boa, boêmia e surreal que levei.
Saudades de tudo isso e de todas as coisas pequenas que ainda não reparei que vou sentir saudades. Saudades de Lisboa, de Portugal. Saudades da Terra do Tejo.
E, por isso, que não sei se estou pronto ou com vontade de voltar ao Brasil. Sei que volto diferente, e sei que as coisas por ai mudaram. Só não sei se gosto disso.
Mas é isso: sabia que um dia ia acabar. Basta ter a certeza de que foi bem aproveitado. Agora, é chegar, trabalhar e preparar a próxima viagem.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Esses último dias foram um retrato de quão multicultural eu sou. (haha) Se no domingo eu comia Chicken Wings e Onion Rings em um Hard Rock Café enquanto via o Superbowl, jogo maravilhoso por sinal; ontem a noite eu estava em um restaurante de Fado, tomando vinho e comendo febras enquanto um senhor em terno quadriculado cantava sobre Lisboa e Alfama. Dois programas bem diferentes, bem interessantes, bem divertidos e bem caros.

Mas, não só isso. Depois do Superbowl, por exemplo, acabei jogando futebol americano em pleno Rossio, com um cara que descobri mais tarde ser algum tipo de socialite portugues. Casualmente, esse cara, o Gonçalo, é dono de uma produtora e acabou pedindo meu currículo. Eu acho que não vai dar em nada, mas nunca se sabe.




Tirando isso, agora acabei definitivamente o IADE. Segunda tirei o dia para estudar para a minha última prova. Hoje, imprimi meus trabalhos. Falta agora apenas apresentá-los e deu, meu semestre acaba. Gostei do resultado deles, por isso aqui vou o meu poster e a capa que fiz pra ele.






O sábado também foi bem legal. Tinha saído para uma caminhada e, quando voltei, me falaram que o João, dono do hostel, estava de aniversário. Ele organizou um churrasco com os familiares e hóspedes, o meu primeiro aqui em Portugal. Era meio diferente, afinal de contas só tinha carne de porco. E a massa era fria também. Mas tinha sangria e foi divertido.

Durante o churrasco, o Foster chegou de Barcelona. Saímos de verdade pela primeira vez aqui em Lisboa, já que ele não tinha que viajar cedo. Fomos ao Bairro Alto e depois decidimos ir a uma festa, mas estava lotada demais. Acabamos tentando ir a outra, onde nos barraram. O chato é ver como única possibilidade de não nos deixarem entrar o fato de sermos brasileiros. Enfim, conhecemos um bar meio escondido e bem divertido.

Descobri também que estava errado sobre o Marcos e Nina, meus colegas de casa novos. Eles são bem legais, fáceis de se conviver. O Marrrrcão, como se apresenta, é totalmente louco e eles já deixaram claro que, com eles, o que acontece é festa. Acho que vou me dar bem.

E uma última coisa que descobri, além do bar escondido e do casal alemão legal, é que sou um consumidor compulsivo de livros. Ontem entrei na FNAC e saí com dois. Pelo menos é um vício bom.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Mais um review da semana

Essa semana teve algumas coisas interessantes.

A segunda, não foi uma delas. Acordei cedo a fui até a faculdade mostrar meu trabalho para um professor. Péssimo ver que o teu sábado a tarde trabalhando foi em vão e a maioria tem que ser refeita. A tarde, o Johanes chegou e as gurias se foram de vez. Ajudei na mudança. Percebi como não tenho tanta bagagem assim. Não depois de ver a bagagem da Juleana.

A terça, foi um pouco melhor. Ia ao aeroporto buscar o Foster, que chegava de Londres, mas me confundi. Percebi que não sabia nada da viagem dele. Ele chegou por aqui e fomos a Expo. É uma parte mais nova da cidade, um bairro todo construído para a Expo’98. Nunca tinha ido lá. Achei bem bonito. Mas é uma cidade totalmente diferente. Todos os prédios modernosos e tudo mais. Tem uns restaurantes legais, uma boa área na beira do rio. Um fim de tarde lá não deve ser nada ruim.

A quarta começou com uma prova de ciências. Física quântica pela manhã é uma maravilha. Mas foi tranquilo e eu posso quase zerar a prova que passo com folga acho. A tarde, levei o Foster a Belém. Vimos a Torre, comemos uns pastéis.

Mas a parte mais legal do dia, sem dúvida alguma, foi a noite. As 7 estávamos na frente do Campo Pequeno, uma arena que tem aqui. Quem tocava era o Artic Monkeys. Foi um show absurdo. Realmente me surpreenderam. Já havia visto dvds e tudo mais, mas eles são ótimos ao vivo. Era um show que eu não ia, acabei lá porque o Foster tava por aqui. E valeu muito a pena. Depois, fomos ao Bairro Alto. Chegamos em casa as 3 e acordamos as 6, para despachar ele para Barcelona.

A quinta, eu tinha planejado bem diferente. Acordei tarde. Mas tarde mesmo. Quando me decidi que ia começar a trabalhar, depois do almoço, a Tia Neca me ligou. Levei ela no Miradouro São Pedro de Alcântara. Tomamos uma cerveja. Cheguei em casa e me chamaram para jantar. Comi sushi. Havia tempos que tinha vontade de comer sushi. No fim, não foi bom, mas matou a vontade.

Hoje, passei o dia em casa. Eu ainda tenho um prova, uma apresentação e dois trabalhos para entregar. Não aguento mais. Quero que o IADE acabe. Mas o problema é que, quando acabar, já é minha última semana. Enfim, me decidi que hoje ia acabar todos os trabalhos. Não o fiz, mas dei uma bela adiantada. Se amanhã render, mato tudo.

Hoje pela manhã, a Johanna veio aqui se despedir. Ela está indo para a Espanha, passar uns dias com o namorado, e depois vai de volta para Berlim. Pensando nela, na Juleana e no Grega, eu vejo como fui sortudo. Passei uma semana apenas com o Johanes e com a Monica, namorada dele, e vejo que não está indo muito bem. Eles são meio desorganizados (até para mim) e ele é meio metido. Simplesmente não gosto de dividir a casa com eles. Se o outro casal alemão vier, já era. Essa casa vira um inferno. Enfim, pensando hoje, vejo que a minha companhia de casa nesses tempos foi maravilhosa. Até dia 1º de fevereiro.

Hoje (sim, três parágrafos começando com a mesma palavra) eu deveria estar indo para o Cartaxo, no fim de semana da TUNA. No fim, não rolou por falta de córum. Agora não sei. Fim de semana que vem, queria ir ao Porto. Mas surge, sempre, uma questão na minha cabeça: devo eu passar meu último fim de semana em Lisboa, fora de Lisboa?

domingo, 31 de janeiro de 2010

Novo Flatmate

Quinta a noite eu saí com as gurias. Acho que foi o lugar mais alternativo que já fui. É uma associação chamada GAIA, que fica no Martim Moniz, o bairro meio boca-braba que me meti uma vez que me perdi. O GAIA, que é um grupo de ação ambiental, organiza todas as quintas uma janta popular. Não tinha ideia do que era, mas fui.
Chegando lá, comecei a conversar com a Juleana e um brasileiro, do Ceará. O cara está por aqui há um bom tempo e é músico. Gente boa, mas meio elétrico demais. A janta era vegan e livre de alimentos transgênicos. Além disso, custava só 3 euros. Só não me perguntem o que eu comi que não tenho ideia. Sei que era algo com arroz e uma salada. Até agora, não morri.
Depois, na mesa de matraquilhos, ou kicka, ou fla-flu, conheci o Paulo. Brasileiro também. Nascido em Belém, viveu no Rio e em Goiás. Dá para ver que era um cara bem humilde, daqueles que se viram. Agora, mora aqui já faz algum tempo, aprende francês no Gaia e, segundo ele mesmo, faz coisas que, no Brasil, jamais faria.
Saindo do Gaia, foram todos ao Típica. Eu até fui, mas me senti meio por fora e vim para casa dormir.
Já na sexta a noite, saí com a Ana e a Aude, que está de volta à Lisboa. Fomos ao Boca do Inferno, um bar de rock. Acabamos por conhecer o dono do lugar, o Chico. Ele é super fã de CPM22 e toca numa banda chamada Fitacola. Estranho ele achar que o CPM era uma espécie de Xutos e Pontapés brasileiros. Os Xutos são os reis de Portugal, uma espécie de Rolling Stones lusos. E piorados.
Tirando isso, passei o resto do fim de semana em casa. As gurias foram ao Porto, estava sozinho. Cozinhei carne para mim, duas vezes. Batatas também. Esse fim de semana comi bem demais. E demais. Pelo menos fiz meus trabalhos, ou a maioria. Não aguento mais a faculdade. O IADE é a única que ainda não encerrou as atividades.
Durante meu tempo sozinho nesse fim de semana, desejei bastante que ficasse assim até minha ida para o Brasil. Ficar sem ninguém é bom de vez em quando. Mas, agora de tarde, o Johaness, meu futuro colega de quarto, veio até aqui deixar umas coisas. Ele e a namorada se mudam amanhã.
Eu até que gostei dele, conversei de verdade pela primeira vez agora. Mas eu preferia as gurias. Nos já nos conhecemos, já sabemos como nos tratar. Mas não tenho escolha. Pelo menos eu não estou me mudando amanhã também.
E agora me dou conta. Tenho mais o próximo fim-de-semana, que viajo com a Tuna, e mais um. Na sexta-feira depois disso, já embarco para Dresden. É isso, chegando aos finalmentes.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Dias com o foster

“O foster chegou no domingo, pelas 5.00 da tarde. Até chegar em casa, já passavam das 6, de forma que não tínhamos nenhum lugar turístico para ir. Resolvemos sair para dar uma caminhada, para eu apresentar a cidade.

Miradouro da Graça, Alfama, Baixa, Bairro Alto, São Pedro de Alcântara, a rua de trás da Liberdade, que descobri esse dia. Issso é uma grande volta pela região central da cidade. Paramos, tomamos uma ginja e fomos jantar. Acabamos na Alfama, outra vez, em uma tasca pequena. Um bitoque para cada depois e fomos para casa.
Lá, nos convidaram para ir ao Chapitô. Sempre tive um certo preconceito contra esse lugar, mas percebi que estava bem errado. Ok, ele é, sim, de todos aquelas pessoas alternativas e estranhas. Mas, mesmo com um show de reggae, foi divertido.

Ontem, segunda, acordamos pelas 10 e saímos. Fomos ao Castelo São Jorge, Sé, Elevador de Santa Justa, Lapa, Bairro Alto. Ai paramos para comer um arroz de peixe com gambas. Bem bom.

Resolvemos ir ao Estádio da Luz, ver se existia algum tipo de tour. Chegando lá. Havia uma venda de ingressos para, nada mais nada menos, que o jogo dos Amigos de Zidane e Ronaldo vs. Benfica All Stars.

Zidane, Henry, Kluivert, Kaká, Barthez, Nedved e mais uma cambada de jogadores que nunca imaginei ver em campo. Até mesmo o bom e velho Valdo entrou.

O jogo foi um empate democrático, em 3 x 3. Tirando o Daniel Alves e o Nedved, ninguém estava muito afim de bola. O que é uma pena. Se eles quisessem, poderia ter sido um jogão. Mas, sem dúvida, foi um bom programa.

Dormi a meia noite. Levantei as 4. Caminhei até a Santa Apolónia. Dormi as 5. O Foster já foi para Londres, mas volta semana que vem.

Foram dias bons. Rever um bom amigo e fazer aquelas coisas de turista que não faço mais, mas ainda são legais, me caíram bem.”



Texto escrito terça, mas que só postei agora.
Ontem passei o dia indo e vindo da faculdade. Já entreguei um último trabalho. Agora me faltam 2 provas, 1 poster e 1 campanha. É isso ai. Tá tudo acabando.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Sintra

Ontem tive um ótimo dia. Acordei mais tarde do que esperava, batalhei contra o colchão, sai vitorioso e fui para Sintra.

Pretendia chegar lá as 10:30. Cheguei pontualmente as 12:00. Mas, pensando agora, não faltou tempo para nada.

Meu primeiro destino na pequena Vila foi o Palácio Nacional, no centro histórico. Ele era uma residência de verão para a realeza. E eu achei bem mais ou menos. Mas o centro em si era legal. As casinhas pequenas e as ruelas dão um charme especial. Charme esse que já dura uns bons anos, quiçá séculos.

Depois fui ao Castelo dos Mouros, construção milenar, ou o que resta de uma construção milenar, datada do século X, período de invasão árabe. Antes do castelo, caminhei bastante pelo parque que o cerca. Muito bonito mesmo. Só me arrependi de estar de tênis e não com minhas botas de neve. Com elas, meu dia teria sido bem mais fácil.

O castelo em si também era bem legal. A muralha e as torres sobreviveram bem aos tempos. Mas só elas. Mesmo assim, a visita valeu bastante. De lá, se tem uma vista linda. Eu acho. Ontem havia tanta neblina que mal via meu relógio de pulso.

Do Castelo dos Mouros, fui até o Castelo da Pena. Ele é um antigo monastério do século XVI (acho eu), que o Rei Fernando II, do século XIX (acho eu) comprou e remodelou. A começar pelo absurdo jardim que o cerca, o castelo é espetacular. Esse jardim trás árvores de todos os cantos do mundo, lagos, pontes, miradouros e até mesmo um picadeiro. A minha saída foi atravessando ele. Sozinho, no meio da mata, me dei conta de que estou tão acostumado com a cidade e com barulho que o silêncio assusta.

O edifício do castelo é lindo também. Mistura uns vários estilos arquitetônicos e cada cômodo leva uma decoração diferente. Pelo que li, e comprovei vendo, a família não era dada a paredes vazias. Assim, cada quarto tem uns 200 quadros, fotos, movéis e o que quer que se pode imaginar.

Sai de lá, me embrenhei (essa palavra existe?) na mata de novo, desejei ter minhas botas e voltei aos Mouros. Lá, peguei um ônibus e voltei ao centro.

Caminhei até a Quinta da Regaleira. O lugar é maravilhoso. Costumava ser a moradia do Carvalho Monteiro, um ricaço brasileiro. O terreno é, mais uma vez, enorme. A mansão é arquitetonicamente linda, mas a exposição interna eu achei meio fraca. O jardim, sim, é ótimo. Estátuas, fontes, capela, torres, grutas. Ter a Quinta como chácara de fim de semana me agradaria bastante.

Nisso, já passavam das 18:00. Voltei ao centro e comi na Piriquita, uma confeitaria que me tinham indicado. A dica foi boa. Um travesseiro, especialidade da casa, e uma queijadinha, especialidade de Sintra, depois; voltei para Lisboa.

Cheguei em casa, tomei um banho e sai. Tinha marcado as 21:00 na estação de metro com a Tuna. Cheguei pontualmente as 21:00. Claro que não achei ninguem e que não tinha o número de ninguém e que não conhecia aquela parte da cidade. Mas, no fim, dei um jeito e achei o restaurante.

Uma janta ótima e divertida. De lá, fomos caminhando até o Bairro Alto. O pessoal se disperçou e cedo eu estava em casa, porque tinha que buscar o Foster de manhã. Depois de estar de pijama, embaixo das cobertas, descubro que o voo POA/SP atrasou e ele só vem amanhã, no domingo.

Ontem tive um dia ótimo. A pequena e história Sintra é linda e merecidamente patrimônio histórico da humanidade. Infelizmente, não era a melhor época do ano. A neblina atrapalhou um pouco e perdi a vista. Mesmo assim, a viagem não foi em vão. Depois, a janta também foi ótima. O pessoal da Tuna é muito legal, gosto deles. Acho até que, ao invés de ir ao Porto, vou viajar com eles, para um fim de semana da Tuna. Acho que sim, pois o Porto não vai sair de lá, mas essa é, certamente, a única chance de viajar com a Tuna.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Review da semana

Tive uma semana legal. Gostei mesmo.

Depois de Coimbra, meu fim de semana foi bem leve. Não sai muito. Fiz muito mais pesquisa para trabalhos do que qualquer coisa. Tentei mexer no meu portifólio.

No domingo, passei o dia em casa. A noite, depois de pensar em vários xingamentos ao Grega, que ouvia música bem alto na sala, saí do meu quarto e vi que ele simplesmente tinha faxinado tudo. Por isso a música alta: ajudar no trabalho. Comecei a ajudar, depois as gurias chegaram. Acabamos e conversamos até umas duas da manhã.

Na segunda, acordei e fui para a aula. Lá, comecei a trabalhar no poster que é o trabalho final de Design Bidimensional. Cheguei em casa e me pus a vetorizar. Só saí de casa quando pronto. Gostei bastante do resultado, estou bem orgulhoso. Não fazia algo do tipo há tempos. A noite, tinhamos combinado de sair com o Grega, que viajava de vez na quarta-feira. No fim, ficamos em casa. Alguns amigos das gurias apareceram aqui. Comemos pizza e jogamos Uno.



Mais uma vez, depois de dormir pouco, fui para a aula. Mas, diferente, meu dia de terça não teve uma tarde lá muito legal. Passei o dia na função de cancelar a internet a partir de fevereiro. Isso significou passar a tarde no prédio da PT comunicações. Mas, a noite, dessa vez sim, saímos. O Grega fez uma boa última janta, com algo próximo a uma pizza, uns bolinhos vegetarianos. Daí, uma amiga austríaca dele e um italiano amigo da Juleana apareceram. Acabamos no Bairro Alto. Acho que foi uma despedida divertida.

Daí acordei na quarta e o primeiro de nós já tinha abandonado a casa. O Grega foi uma boa companhia, sem dúvida. Ele era divertido, fácil de lidar. Gostei de ter ele como companheiro de casa esses meses. Mas agora é estranho. O tempo tá acabando aqui. Já somos 3. Em fevereiro, as gurias somem.

Na quarta, passei o dia em função da faculdade. Pelo menos apresentei um texto que achei bem legal. O briefing era estranho: criar um texto onde apresentasse o ponto de vista de um copo. Mas acho que cheguei lá. Nesse dia, entre uma aula e outra, conheci o Jardim Estrela. Estava para ir lá havia tempos. Vi ele no meu primeiro domingo aqui, mas nunca tinha ido. É um parque bem legal, calmo. Comecei a ler meu livro do Borges, “A História Universal da Infâmia”. Tinha procurado ele em Porto Alegre, Lisboa e sebos virtuais. Fui encontrar na pequena Coimbra. Até agora, o livro valeu a pena.

Hoje, acordei e, apesar de ser a última coisa que queria, fui em uma palestra chatíssima sobre impressão digital. Perda de tempo total. Mas, no fundo, já sabia que seria assim. A tarde, comecei a trabalhar na segunda imagem do meu poster, mas essa tá sendo mais casca grossa.

Decidi que amanhã vou acordar cedo e ir a Sintra, uma vila que fica aqui perto. Acho que deve ser bonita, tem castelos e parques. Ao fim do dia já volto, porque é dia de janta da Tuna.

Resolvi o lance da minha estadia pós 1º de fevereiro. Falei com o João, que resolveu ficar com a casa, e eu vou alugar meu quarto em separado. No fim, é um ótimo negócio: pagarei mais barato do que qualquer hostel ou hotel e terei um quarto privativo. Agora, rezo todas as noites para que ele não ache mais ninguém e eu fiquei sozinho, mas acho que vai ser difícil. Eu tive colegas de casa tão bons e tão legais que acho que vai ser difícil me dar bem com alguem que entre aqui. Acho que vai ser péssimo um estranho por aqui. Mas não tenho muito o que fazer, a não ser rezar.




(Aqui, meu texto do copo)


Corpo de Vidro
Por Tomás Albrecht
Técnicas Discursivas – 21.01.10


Jamais senti inveja de ninguém. No fundo, gosto mesmo é desse chiqueiro. Aqui, todos são amigos e cada marca de batom que recebo é com gosto e vontade. Aqui, todos me seguram com firmeza, com aquela firmeza desesperadora de um alcólatra ainda sóbrio. Aqui, ninguém repara nas minhas lascas ou trincas. Sou um copo de vidro, parado em uma estante de um boteco sujo em uma esquina qualquer.

Sou o melhor e verdadeiro companheiro da marioria. Rodo pelas mão de todos, assim como as piranhas baratas que frequentam esse lugar. Tenho um certo gosto de fumaça e as bordas eternamentes engorduradas. Alterno entre cerveja e pinga, pinga e cerveja. Quem sabe, um vinho “sangue de boi”. Mas, mesmo assim, como já disse, não invejo ninguém.

Prefiro uma vida barata a uma regada à champanhas e conhaques e uísques e merlots. Prefiro ser levado à boca com essa vontade semi-sexual e sem pudor. Prefiro que me agarrem com o desejo de uma paixão proibída, que viveu às escuras por tempo demais. Prefiro essa vida verdadeira.

Porque, aqui, repousando sobre uma dessas mesas, conheço tudo. Sei de política, de futebol, de novela e de Big Brother. Às vezes, escuto alguma cantada incerta; às vezes escuto um coração partido; às vezes escuto sobre a gostosa que se mudou para o apartamento 213.

Aqui, em cima dessa mesa, vejo o mundo. São os amigos de longa data e os recém-conhecidos. São os amores e as paixões. São os pais de família descansando depois de um longo dia de trabalho ou, quem sabe, se preparando para um. São as loucuras, as aventuras, os sonhos de um fim de semana. São todos aqueles olhados de cima. São os ignorados e irrelevantes, que não estampam nem capa de jornal de bairro.

São todos esses, vivendo, levando suas vidas e repartindo comigo. São essas histórias que não saem no jornal ou na revista de fofocas.

Eu, na minha inocente posição, escuto a história do povo de sua própria boca. E, quando cansados de falar, os ajudo a refrescar a garganta.

Por isso, não invejo ninguém. Pois, enquanto alguns sentem o toque sedoso de mãos bem cuidadas, eu sinto o toque roto de mãos calejadas e trêmulas. Mas, a cada um desses toques ásperos, eu vejo que não é um bêbado que me leva a boca, mas sim a vida que beija meu corpo de vidro.